quinta-feira, dezembro 31, 2009

Pegue na Sua Flute e Venha Festejar com Driss

Esperemos que 2010 seja um ano muito especial, tão especial que dê para ver o Prediger a jogar à bola, o Jorge Jesus a citar Aquilino Ribeiro nos túneis ou o Belenenses a garantir a manutenção sem recorrer à sua insigne equipa jurídica.
A todos vós, Driss deseja um 2010 cheio de Sinamas e que mantenham os Pongolles em cima.
Cin-cin!

quarta-feira, dezembro 30, 2009

Época de saldos e devoluções prematuras

Já passaram pela situação de emprestar uma camisola velha a um amigo, mas vê-la prontamente devolvida porque afinal era inútil, tinha defeito, ou porque ele acabou por comprar uma melhor?
São Costa também.

segunda-feira, dezembro 28, 2009

O Facebook de Miguel

"You have the right to remain silent. Anything you say can and will be used against you in a court of law. You have the right to speak to an attorney, and to have an attorney present during any questioning. If you cannot afford a lawyer, one will be provided for you at government expense."

segunda-feira, dezembro 21, 2009

Doppelgänger, Tomo XXVI












Nuno Lopes é dos actores mais versáteis da nossa praça. Comparo-o a um Carlos Costa, pela forma como tanto desempenha o papel de Bispo como o de Cavalo, neste tabuleiro de xadrez que é o palco da vida. De permeio, podemos ainda apreciar a sua encantadora performance como Dama, absolutamente sem rival - à excepção de Nuno Gomes.
É esta versatilidade, salpicada a toques de génio, que liga estas duas figuras tão lusas: Lopes com os inesquecíveis papéis de "Chato" ou do rústico "tchanam", e Carlos Costa as himself, o auto intitulado "Homem dos Grandes Golos".

Mas curiosamente, o versátil todo-o-terreno ex-Farense não é a ligação mais óbvia de Nuno Lopes com o Mundo da redondinha. Guest starring: António Duarte, ex-Braga.
O stopper da Arrentela assemelha-se claramente a uma tentativa do actor lisboeta de encarnar um guitarrista de uma banda dos anos 70, mas desenganem-se: ele existe, é real - todo ele carne, osso, permanente e bigode. Ou pelo menos já foi.

sexta-feira, dezembro 18, 2009

O Rei Está Vivo!...

... e este ano actua em exclusivo no grande palco de Santa Maria da Feira, onde efectua maviosos duetos com o não menos icónico Wagnão.
Discos de platina e próteses de prata é o que se espera desta dupla de ouro.

quarta-feira, dezembro 16, 2009

Sassaricando

- Mamãe, quero jogá uma peladjinha…
- Cala essa boca, muleque! Você tem de se aprumá prá foto pra colocá aí no seu passaportji, ‘tá ouvindo?
- Mamãe, mas eu quero muito batê uma bola…
- Vamo fazê um negócio aí: você tira uma foto rapidjinho e eu deixo você i jogá pra Portugáu na hora.
- Como é meismo?
- É isso aí! Você se mete bonitjinho para a foto e eu libero você, sacou?
- Oba! Valeu!

- NOSSA! VIGE MARIA! Você é um horrô! E eu sou tão bela… Só podji ter sido da transa mal dada que dei com aquele sujeito do boteco!... Sua vovó bem me avisou!...
- Ué? Que tem?
- Que tem? Você 'tá louco?!? Você já viu bem esse sorriso dji múmia, meu filho? Isso é sorriso que se faça para a objetjiva?
- Oi? Então, estou mostrando minha bela dentjição…
- QUI NADA, MULEQUE!! Isso não é sorri, isso é bancá o atrasadjinho, pô! Você é trouxa pra xuxu! E você já viu esse cabelo? Minha nossa! Pareci um microfôni daqueles que o Fernando Pereira usava nos anos 80…
- Fernando quê? Não tô entendendo…
- Você já vai entendê… vou mandar você para um clube qui tem muito sujeito dji bigodji como esse Fernando Pereira... e pelo nômi, o sujeito é primo dele e tudo...
- Como é?
- É isso aí, garoto. Olha aí, seu novo colega dji time… Você vai vê muita gentji iguau lá no Algarvi ou lá como si chama esse treco…

- Nossa… E essi cara aí é legáu? Sei não…
- Não esquenta, filho! Essi cara aí é tão jóia qui ainda vai produzi um filho com o mesmo nome e tudo…
- Sério?
- Sério meismo. É como si você si chamasse Maria Aparecida da Conceição como eu, mas sem bigodji, que isso é coisa brega dji portuguêis meismo.
- Droga, mamãe! Então lá nos Portugáu toda a gentji tem bigodji?
- Não… também há gentji que abusa do géu…
- Do quê?
- DO GEL! Que babaca você é! Você não entedji portuguêis, não? Olha lá que em Portugáu tem muita gente falando portuguêis…
- Ah, géu, agora ‘tou vendo…
- É, géu. Essi aqui pareci que pegou num ouriço-cachêro em véiz dji pegá no boné ao saí dji casa… Veja só…

- Credo! Pôxa, mamãe, os portuguêsis me assustam…
- Não enche o saco, garoto! Você qué jogá futjibóu ou não?
- Quero sim, mas…
- Então você vai ficar quietjinho e fazê o que lhe djigo, ‘tá ouvindo?!? Só num time como o Farensi é que sua feiura vai passá despercebida.
- Sei não… Farensi mi pareci bem, mas os portuguêsis…
- Olha, não é só portuguêis, não. Também tem estrangêro bom dji bola. Esse aqui é o matadô do time… fica frio com ele, ‘tá ouvindo, garoto?

- Como é meismo? Curcitji? Esse cara é bacano?
- É bom qui seja pra você! Se você se descuidá, ele manda um pontapé no meio das suas pernas e você não vai podê gozá mais no resto de sua vida, não! Te aviso: esse cara aí é fogo, não se deixa iludji pelo cabelo dji anjinho, não. Vai sê o primêro cara que você vai djizê olá e o último a djizê adeus todos os dias, ‘tá entendendo?
- E como é o resto lá no Farensi?
- Olha, você se vai dar muito bem. É só você fazê o que sabe. Tem sol, marisco, bunda gorda na praia e djipois… sei lá, você ainda vai pará a outros grandes times, como o Boavista, o União de Lamas… vai ser muito gostoso… e eu sou sua mamãe, acha que te quero máu?
- Oba! Se é assim, mal posso esperá! Quero i já!
- É… é melhor i depressa que esse seu sorriso me está deixando sem jeito meismo… Vai lá e manda grana prá gentji, ‘tá ouvindo?
- Tji amo, mamãe!
- Eu também amo você, garoto.

quarta-feira, dezembro 09, 2009

360º - Pequena Biografia Não-Autorizada de Angulo

O mundo do futebol ainda chora a perda de Angulo. O ex-jogador espanhol era uma espécie de acamado em fase de negação nos últimos tempos e, portanto, deveríamos esperar o pior. Ainda assim, a consternação invadiu toda a tribo da bola, pois todos estávamos convencidos que Angulo seria um gajo tipo Chano, ou seja, que coxearia condignamente até ao final da época. Tal não foi possível.
Vamos lá dar então um lamiré pelo insigne percurso lusitano deste verdadeiro meteorito geriátrico.

30 Agosto 2009 – O Sporting resgata Angulo num blitz demoníaco que alvoroçou todo o jardim onde Angulo jogava à malha. Sim, Angulo seria a nova aventura dos leões pelas terras de nuestros hermanos, depois de pérolas tão bem sucedidas como Toñito, Robaina ou Koke. Foi só uma questão de (não) desafiar a História.
Neste radioso dia, Angulo toca com a sua bengala pela primeira vez no chão de Lisboa e as coisas até começam bem: nos testes médicos revela uma saúde invejável e dispensa mesmo a cadeira-de-rodas. Segundo Angulo, o acordo com o Sporting foi muito fácil: explicaram-lhe a táctica, ele disse que gostou e tumba!, o lar de Alvalade contava com mais um residente. Para disfarçar, disse que vinha ganhar títulos, mas até os responsáveis do Sporting acharam que Angulo tinha ido longe demais nesse desejo – a secreta esperança dos dirigentes era apenas não estourar com o depauperado orçamento em fraldas anatómicas.
Assegurou a camisola 17 por ter “a ilusão de um miúdo de 17 anos”. Tudo bem. As camisolas só vão até ao 99 e, portanto, não era possível ter uma camisola com o número de anos futebolísticos reais de Angulo, que seriam 126, no mínimo. E já se sabe como os velhos são chatos quando começam com aquelas cenas nostálgicas, portanto que ficasse lá com a camisola 17.

13 Setembro 2009 – A mui aguardada estreia de Angulo. E logo a titular. Tinham sido registados alguns movimentos animadores nos últimos tempos, com o substantivo “agitação” a ser conotado com Angulo pela primeira vez nos últimos 75 anos. A ansiedade é grande, mas Angulo, muito experiente, treme apenas devido aos primeiros sinais de Parkinson.
O Sporting recebe o Paços de Ferreira. Ao intervalo está 0-0. Paulo Bento quer mudar as coisas e aposta em alguém para sair. Quem? Angulo, claro está, que adormeceu de boca aberta e a babar-se durante a prelecção do mister. Os adeptos procuravam arranjar desculpas para aquilo que (não) viram durante esses inesquecíveis 45 minutos, onde a bola fora rechaçada em trajectórias indizíveis pelos pés conservados em âmbar de Angulo – a mais comum era “ah, ele vem com falta de ritmo”. Não é de todo verdade: Angulo gostava de dançar o seu charlestonzito de vez em quando, quando a ciática não lhe flagelava muito.

17 Setembro 2009 – Um jogador do quilate de Angulo não poderia ficar arredado das grandes luzes da Europa e portanto são-lhe concedidos 8 minutitos em Heerenveen. Um luxo. E não teve muitos reumatismos no pós-jogo. Angulo, com a sua mística particular, ainda contribuiu para distrair a defesa holandesa com os seus espampanantes truques de deixar a bola sair por entres as pernas pela linha lateral, proporcionando a vitória a Liedson.

21 Setembro 2009Paulo Bento não conhece a palavra “piedade” e, pérfido, insiste em Angulo para a titularidade no jogo contra o Olhanense, nem 10 dias tinham passado após o seus últimos 45 minutos a titular. Foi quase fatal essa opção. Angulo, sobrecarregado, ia tendo um AVC. Paulo Bento, para não ter que queimar uma substituição devido a falecimento ao intervalo, recolhe Angulo para a caminha logo aos 28 minutos com o placard em 0-2. O Sporting ganha o jogo in-extremis e o plantel tenta reconfortar Angulo, dedicando-lhe a vitória. Mas Angulo não ouviu nada: desde o rebentamento de uma bomba durante a Guerra Civil Espanhola que Angulo possui uma audição muito débil, pese embora a dimensão parabólica das suas orelhas. Os adeptos, contudo, já começam a não achar piada e chegam as primeiras justificações do empresário, proprietário de um franchising de lares de 3ª idade na costa Cantábrica.

4 Outubro 2009 – O Sporting não desata o nó perante o Belenenses e o desespero é tal que Paulo Bento não tem melhor solução do que empurrar Angulo para o campo aos 58 minutos. 32 minutos e mais alguns de compensação depois, Angulo ainda permanecia perdido em campo até que Paulinho veio buscar o saco com as bolas e reparou no espanhol a olhar para o horizonte. “Oh… Oh Miguel Ângelo… anda lá, pá, depois fica frio e constipas-te”, disse-lhe o afável roupeiro. E Angulo, confuso, aceitou a proposta sem perceber uma palavra dita por Paulinho. Paulinho, com alguma tristeza, confidenciou que Angulo “parecia um maluco a olhar para o ar”.

22 Outubro 2009 – Na Letónia ocorre a verdadeira coroa de glória deste período da história de Angulo: num momento de soberba inspiração Andrésdiazesca, Angulo entra aos 88 minutos e vê um amarelo aos 89 minutos. Não, não era a cor das suas ceroulas, era mesmo um cartão amarelo. E assim Angulo disse “presente!” à Europa do futebol. Pelo menos, achamos nós que ele disse: ele empapou tanto a sua fala entre a expectoração que não deu para perceber bem.

5 Novembro 2009 – Dizem que Paulo Bento saiu por isto ou por aquilo, mas a verdade é que Paulo Bento, saturado, fez uma jogada de tudo-ou-nada: “aposto o meu emprego em como hoje o espanhol vai deslumbrar a massa associativa”. Todos nós sabemos o desfecho. Angulo entrou ao intervalo e brindou todos os presentes com uma perfeita demonstração de nulidade futebolística, logo perante esse monstro do futebol chamado Ventspils. Há quem lhe chame arte minimalista.

8 Novembro 2009 – O último capítulo da saga trepidante do ancião asturiano dentro das quatro linhas. Angulo, fiel às suas convicções, entra para novos 45 minutos de geometria estática em Vila do Conde. A equipa passa do 2-0 ao 2-2. Definitivamente, Angulo esquecera-se de jogar à bola e também dos medicamentos contra o Alzheimer em Alcochete. Leonel Pontes encolhe os ombros e deixa o problema da argália de Angulo para o próximo treinador resolver.

5 Dezembro 2009 – Estava Angulo a ter a um mês tranquilo, realizando o seu treino personalizado sem condicionamentos, ou seja, cinco minutos diários de passeio em passos moderados de uma bandeirola de canto ao primeiro poste sem recurso a canadianas, quando Carvalhal se acerca dele e lhe entrega uma nota de despejo. O decano espanhol demora algum tempo a perceber o que lhe estavam a dizer, mas depois de tomar a medicação finalmente arruma o penico e as pilhas do pacemaker na bagagem e despede-se de Lisboa. Tinham sido 231 intensos minutos em 7 jogos e, valha a verdade, Angulo já se sentia exausto e sem vontade para sequer jogar um dominózito no Jardim da Estrela. Pelo menos, esta saga lusitana deu-lhe material suficiente para contar uma notável história para adormecer aos seus netinhos – um material soporífero ao nível daquele que arrastou pelos campos durante este curto, mas significativamente marcante, trimestre.

domingo, dezembro 06, 2009

The Darko Diaries

Olá.

Meu nome é Darko Butorovic e sou croata. Lembrar-se-ão de mim como lateral direito do FC Porto e do Farense. Ao serviço de ambas as colectividades atingi a simpática fasquia de 10 jogos na Liga Portuguesa.
















Gostaria de ter jogado mais, mas tive a feroz concorrência de titãs como Carlos S. e Rui Eugénio, o "Pigmeu". Era assim que eu lhe chamava. Normalmente ele respondia com "croata filho da p***", porém sempre preferi ser tratado por "Darko, a Ameácia da Dalmácia".
Infelizmente só o Mielcarski é que me chamava isso, mas como o polaco dividia o tempo entre a enfermaria, o hospital e o sanatório, acho que só o vi duas vezes na vida. Uma foi no treino onde se lesionou no joelho direito, e outro foi no treino onde perdeu a orelha esquerda. Primeiro pensámos que fosse lepra, mas depois viemos a saber que era apenas uma variante estranha da peste bubónica. Quando soubemos que nos tínhamos enganado, eu e o João Manuel Pinto rimo-nos muito. Adoro diagnósticos errados. Bons tempos.

Por esta altura, os caros leitores já devem estar a interrogar-se sobre o que farei eu neste escabroso blog. Pois bem, hoje recebi o meu primeiro computador (obrigado, Mamã), e o Cromos da Bola, SAD foi generoso o suficiente para me endereçar este singelo convite para escrever umas tretas avulsas. Na verdade, foi o primeiro convite que recebi de um site da internet, desde que o interracialtranssexualwhores.com me perguntou se não queria ser a estrela de um filme deles. Eu disse, "nem pensem nisso, sou muito fraquinho em frente a uma câmara! se quiserem provas, vejam estes dez jogos de futebol nos arquivos da RTP Portugal", e dei lhes as datas. Não me voltaram a ligar...mas eu enviei-lhes o contacto do Chippo. Parece-me que será mais indicado para o que eles pretendem.
















Porém, os administradores e accionistas maioritários do blog pediram-me para fazer uma breve resenha dos meus tempos como artista do cautchú neste País irmão. Assim sendo, não irei divagar demasiado.

Cheguei ao Porto na época de 96/97, supostamente para substituir um eloquente senhor chamado Broas, que actuava na minha posição. O meu concorrente directo era o tímido Neves, um bom rapaz, que teria sido um bom jogador caso tivesse nascido com jeito para jogar à bola. Mas era peixe miúdo comparado comigo, coitado. Escusado será dizer que após meia-dúzia de treinos o meti no bolso. É que...Santo Deus de Virovitičko-Podravska, o pobre do Neves cruzava tão mal, que cada vez que metia o pé à bola, um anjo caía do Céu e a santa face do Senhor enchia-se de lágrimas.

No entanto, por algum motivo que não consegui descortinar, o mijter não confiava no meu toque sedoso e estóico posicionamento defensivo, e enfiou um miúdo cheio de brilhantina a jogar na minha posição. Eu não tenho nada contra o Krstic ou o Lopes da Silva, mas o petiz vinha do insalubre Felgueiras! Quem era ele à beira do condecorado "Darko, a Ameácia da Dalmácia"?
Obviamente que fiz aquilo que nós croatas melhor sabemos fazer: amuei. (pensavam que ia dizer "genocídio de massas"? tristes.)

O mijter voltou a não apreciar o meu balcânico beicinho, e recambiou-me para Split via empréstimo. Mas Darko não gosta de empréstimos. Boicotei aquele que seria o regresso triunfal ao País que teve o privilégio de me ver nascer, quando recusei tomar parte das tradicionais festividades de Natal em Split - lutas de cães até à morte, com o intuito de angariar fundos para caridade e compra de armas brancas. O povo não gostou, chamaram-me egoísta. "As crianças precisam de ti!", vociferavam eles. Mas mal sabiam eles que este acto teria sido premeditado - queria voltar a Portugal, provar que merecia jogar na equipa de Lars Eriksson! Claro que depois dos tumultos que provoquei com a minha nega (morreram 15 pessoas só no Condado de Koprivnička-Križevci no meio dos confrontos), teria que voltar a Portugal. O meu plano resultara.

Na realidade, não foi bem assim. É verdade, Darko estava de regresso ao Porto para mostrar toda a sua divindade canalizada pela lateral direita, mas o Presidente tinha também resgatado outro grande futebolista para disputar comigo o lugar no plantel até à morte. Um croata está sempre pronto para dar a vida pela titularidade, reafirmei eu para quem quisesse ouvir.
Durante quatro semanas refinei as minhas tácticas de guerra. Li Sun-Tzu, tirei um breve cursito em armas de destruição maciça, investi num workshop com um puto chamado Gilles Binya em Guantanamo (por onde andará ele? era bastante promissor...), e viajei até à Bulgária para um retiro de quinze dias com o monge belicista Trifon Ivanov. Este último curso foi-me especialmente útil, pois aprendi finalmente a comer gatos selvagens crus sem regurgitar. Quando era pequenino na minha terra, sempre que comia gatos, grelhava-os primeiro...passava por mariquinhas, obviamente.















Após este reavivar de velhos conhecimentos, dirigi-me ao mijter na minha melhor pose guerreira, com as mãos tingidas a sangue de urso e catana às costas, e apresentei-me para a disputa da posição de lateral-direito. Quando ele me disse assustado que o lugar iria ser disputado com uma bola nos treinos, fiquei muito desiludido. Darko não gosta de Portugueses - demasiado moles.
Mijter afirmou: "És como o apêndice: és obsoleto, ocupas espaço, e ocasionalmente provocas dor, acabando por ter que ser removido à força."
Amuei, e fui de novo emprestado. Passei fugaz pela Holanda, antes de me enfiarem em Faro.

No início até apreciei a mudança. No Algarve finalmente estava livre de portugueses, e sempre podia arranjar confusão com ingleses bêbedos na noite de Albufeira. Não era a Croácia, mas no meu optimismo, admiti que um ou dois genocídios mensais pudessem ser possíveis.
Com tudo isto, distrai-me um pouco do futebol, e acabei por só vestir por uma vez a camisola do Farense. Com muito orgulho, especialmente porque me enganei e peguei na do Dieb. Assim, os adeptos e adversários não conheciam nem o número, nem o nome, nem a cara. Foi um fiasco. E foi também a minha última aparição na 1ª Divisão Portuguesa (e do Dieb também).















Pouco depois, acabei a carreira, de novo na Croácia natal.
De Portugal, um sabor agridoce, como as entranhas de uma girafa bebé. Momentos bons e maus. Mas vinguei-me da dispensa e da falta de oportunidades na Invicta, quando lhes aconselhei a contratação do Ivica Kralj. Pobres diabos.

Agora sigo a vossa bola de longe, sem grande interesse. Aprecio a forma como os remates de fora da área do Pinheiro fazem o Chaló sonhar, e regozijo-me por ver que o ex-clube de Darko ainda não recuperou da minha extemporânea saída, dez anos volvidos.
Agora têm lá um Sapunaru, para quem um passe longo é um long island ice tea, um passe curto é um mini-bar, e um remate de ressaca é levado à letra.

Agradeço a atenção dos leitores do Cromos da Bola, SAD, ao mesmo tempo que me dá bastante pena o facto de não terem nada melhor para fazer do que ler esta vaga dissertação.

Atentamente,
Darko "a Ameácia da Dalmácia" Butorovic

quarta-feira, dezembro 02, 2009

Académica para Crianças

Era uma vez...

Um Abazai que se ria
Fosse noite ou fosse dia
dos colegas e do plantel,
como prova a fotografia.

E porque ria Abazai?
Seria do plantel e do entra e sai?
Ou Seria da briosa e do seu futebol em prosa?
Sim, porque em 97-98, jogavam como um doce biscoito
( fazer rimas com numeros tem que se lhe diga..)

E lá estava a Académica a jogar um belo futebol
quer à chuva quer ao sol.

Mas por que se ria Abazai?
pois bem...
Só agora se percebeu o que ia no clube treinado por Romão e Calisto nesse ano.
Se juntarmos as peças cuidadosamente percebemos que:

A culpa era do Mickey que não gostava de Febras ao pequeno almoço.
Para acabar com o problema precisava de algo divino... então foi-se Mounir de uma Cruz e, forte que nem uma Rocha, foi pelos Campos fora a Roma sozinho, tendo-se cruzado com o Abazai pelo caminho.


Moral da história: Treinos de manhã, só com Leite e Cereais.

domingo, novembro 22, 2009

Sorrisos da Alma

Houve um tempo em que a alma respirava confiança pelas bandas de Vidal Pinheiro.

Atente-se, por exemplo, no sorriso traquinas de Milovac. Poderoso ex-jugoslavo com umas orelhas dúmbicas a pedir meças ao provecto Angulo, Milovac escarnecia com impudicícia a ousadia dos avançados que se atravessavam no seu caminho. O sorriso travesso de Milovac dizia com todos os seus dentes “com que então pensas que vais entrar na grande área e fuzilar a nossa baliza, hã?” e acrescentava, junto ao canto do lábio, “pois é, já vais ver como elas doem, meu caro”. E ainda o avançado estava paralisado com esse verdadeiro canto de sereia que era o sorriso de Milovac, fascinado pelo seu ar de aparente ternura infantil, ao jeito de quem sorve granizados atrás de granizados nas traseiras do pavilhão da escola, e já Milovac lhe aplicava uma tesourada impiedosa capaz de fazer gastar todo o stock de sprays analgésicos do seu clube de uma só vez. Milovac era um autêntico lobo vestido de cordeiro. Djoincevic era mais um lobo vestido de lobisomem – mas isso já são outras contas.

Nikolic, por seu turno, distribuía sorrisos que tendiam para a gargalhada, tamanha era a sua confiança. Sorrisos que despertaram furor no mundo publicitário, pelos sentimentos positivos que traduziam, e que mereceram o seguinte comentário de um famoso publicitário brasileiro: “Nossa, esse cara aí vai londji, pô”. E foi – desde a sua meia-lua até à pequena área contrária. Ele era o grande artista de Paranhos, o mágico que transformava uma bola perdida na lama de Vidal Pinheiro num planeta pleno de viço rolando sobre uma carpete persa. A equipa era uma espécie de Tocá Rufar e ele era um violinista que não tocava Chopin. Já Lalic era uma imitação comprada no bazar chinês de Zagreb – e ao fim de um par de jogos acabaram-se-lhe logo as pilhas e foi rapidamente remetido para uma arrecadação, até que, um dia mais tarde, Edu Brasil redescobriu o seu jeito barato. Edu Brasil era um jogador que não enganava quanto às suas origens – mal alguém olhava para ele, dizia logo: “este gajo Edu Brasil! Quer Lalic quer Edu Brasil nunca conseguiram atingir o mesmo patamar de fotogenia do sorriso ímpar de Nikolic – consta que nem sequer possuíam uma dentição própria.

Seria tudo um mar de rosas se todos fossem assim, mas não há rosas sem espinhos. E eram os espinhos que incomodavam José Luís, sobretudo quando instados nas partes mais baixas do seu corpo. José Luís fazia beicinho amiúde. Franzia os olhos, achava que havia marosca por trás de tudo. Queixava-se que não lhe passavam a bola, que não tinha direito a colete nos treinos, que o vermelho do Salgueiros realçava a sua palidez, que o Madureira tinha um bafo insuportável, que isto, que aquilo, e então amuou. Foi contrafeito que posou para o cromo. Acentuavam-se as divisões no grupo. Crescia a tensão entre os bem-dispostos e os mal-dispostos.

A alma acabaria por ser entregue às mãos do diabo Linhares. E o Salgueiros, como nós o conhecíamos, sublimou-se pelos ares do progresso, tornando-se num clube sem face. Rui França que o diga. Esse mítico centrocampista com nome de país que emprestou um novo sentido à palavra “sarrafada” e nunca mais o devolveu. Rui França e o Salgueiros resvalaram para o anonimato, eclipsaram-se pela força dos carris metropolitanos. Perdeu-se a glória, ganharam-se acessibilidades. O sorriso passou do adepto para o utente suburbano.

domingo, novembro 15, 2009

A Malta de Alverca 1997 - Parte 2


Após um primeiro olhar sobre a grande equipa do Alverca 1997 aqui vamo-nos debruçar sobre mais uns 3 mosqueteiros da Dream Team de Luis Filipe Vieira ha 12 anos.

Sousa - Defesa direito de eleição, o novo João Pinto, ágil, rápido, mais um promissor da cantera benfiquista.. que .. não teve sucesso. Joga hoje no Arouca e é treinado pelo Carlos Secretário, nao sei se estão a ver quem é. Um defesa direito que só passou pelo Real Madrid. Não está ao alcance de qualquer um.. principalmente quando se trata de um erro de casting.
Sousa foi mais um dos jogadores que passaram pelo FCPorto para assinar um contrato, porque minutos nem vê-los.. Mas para compensar passou pelo Olympiacos Nicosia, Beira Mar, Farense, e Belenenses. Para um licenciado em Economia nao está nada mau.

Maniche - Palavras para quê? É mais um artista deste ano no Alverca. Esta foto diz tudo.. Maniche pensava "quando for grande quero ser ainda mais feio, com piores dentes, um cabelo ainda pior, e quero sempre vestir uma camisola azul ou vermelha" E de facto cumpriu. Missão Cumprida Maniche!! Ainda assim, foi decisivo para a grande época do Alverca na II Divisão de Honra, com 29 jogos e 5 golos.

Casquinha - Quem? Como? Desculpem? Ah, um jogador que nunca saiu do Ribatejo? claro que conheço!! Sertanense, Alverca, Vilafranquense, Carregado, Malveira... pois, faz sentido esta carreira. Uma vez ribatejense, para sempre ribatejense. Com este nome.. nao podia ir longe. Se ao menos se chamasse Casca, ou Gema, ou Clara.. Agora Casquinha nao ia lá. Claro que nesta época do Alverca jogou 90 minutos apenas.

quinta-feira, novembro 12, 2009

Uma jóia no coração de Portugal

EXCURSÃO A CAMPOMAIOR.

1º Dia:
Saída em autocarro de turismo com seguro incluído. Chegada a um aconchegante hotel em regime de Octaviano. De seguida a um delicioso almoço vamos visitar CAMPOMAIOR, a terra do café português, e lugar onde são produzidos os mais franzinos e subnutridos Arriagas do País.
Ali iremos a uma FÁBRICA DE MORCELAS, onde além de conhecer o processo de fabricação dessas deliciosas receitas da obesidade mórbida na classe dirigente, iremos dar-lhe a oportunidade de socar um enchido com uma luva de Vítor Baía calçada na mão direita. Exclusivamente para si.
Regresso ao hotel, onde irá ser servido o jantar. De seguida vamos participar num ANIMADÍSSIMO KARAOKE onde todos serão convidados a cantar as animadas cançonetas do popular conjunto "Stanimir Stoilov e a Filarmónica dos Cristãos Ortodoxos de Turgovishte".




















2º Dia:
Pequeno-almoço.
Apresentação publicitária a cargo de JORGE SILVÉRIO, com artigos de alta qualidade, faces ruborizadas de aldeões ébrios, e óptimos preços. Uma potente cerquelha poderá também jaimar sucinta aparição, para deleite do público presente.
O almoço será MIGAS COM GILA, delicioso prato da gastronomia alentejana! Aconselhamos porém a que deixem a Gila na beira do prato, sob pena da sua polivalência se perder num molho de mediania.
Logo após faremos novo passeio panorâmico de autocarro pela MONUMENTAL CIDADE DE CAMPOMAIOR, onde avistaremos a FORTALEZA D. PAULO BANHA TORRES, de onde canhotos canhões eram disparados à cabeça de secretários formando barreira, cumprindo assim uma centenária tradição lusitana.
Além disso, teremos TEMPO LIVRE para comprar as FAMOSAS CHIPMIX, tradicional iguaria campomaiorense. Os nossos estimados clientes terão a oportunidade única de tirar uma pepita de chocolate directamente da testa de Nuno Afonso.



















Regresso a casa na certeza de termos passado dias muito felizes com EXCURSÕES NABEIRO, a sua MELHOR COMPANHIA.

segunda-feira, novembro 09, 2009

Comunicado

A Cromos da Bola, SAD emite o seguinte comunicado:

“Desapareceu dos relvados do futebol o bigode lusitano. Em tempos foi rei e senhor do quadrângulo verde e pode ser facilmente reconhecido pelos mais velhos e pelos saudosistas no geral, os mesmos que hoje em dia ouvem a M80 e que acham que a Samantha Fox é a 8ª maravilha do mundo (embora tenha 1,55m e seja lésbica). A fotografia que se junta exibe o bigode numa das suas derradeiras aparições públicas, escarrapachado na pele de Louro, um defesa com nome de papagaio e que por acaso até era um morenaço bem viril, apesar de muitas vezes mancharem esta imagem com parvoíces do género “dá o pé, Louro, dá?”. A última vez que o bigode foi visto estava na companhia de um sombrio treinador-adjunto ou de um roupeiro alcoólico e demonstrava um trato comportamental bastante furtivo, longe da exuberância patenteada no seu zénite sócio-cultural. Deve possuir, nesta altura, bem mais de quarenta anos. Ostentava já algumas pontas brancas e deixava transparecer algumas debilidades emocionais nas semanas precedentes ao seu desaparecimento. Os vizinhos dão mesmo conta de alguma depressão. Há quem diga que se encharcava de Prozacs e de produtos etílicos de fermentação duvidosa por não aguentar a pressão da moda. Não está colocada de parte a hipótese do seu suicídio. A família desesperada refere que ele desenvolveu um ódio de morte em relação à metrossexualidade e que tentou combater, sem êxito, a força das suas loções e esfoliantes. As últimas investigações detectaram eventuais restos de bigode no chão de alguns salões de beleza e de pequenas barbearias geridas por velhotes de bata, misturados entre cadáveres de permanentes e carcaças de mullets, pelo que se aconselha vigiar de perto esses locais. É considerado inofensivo, mas pode picar. Repito, pode picar. Há quem diga que o viu carpindo mágoas junto a uma pista de carrinhos de choque ou a namorar um copo de vinho junto das quermesses de festas populares do interior ou mesmo junto aos restantes fenómenos Entroncamento no Verão passado, mas sem confirmação oficial.
Qualquer informação sobre o seu paradeiro deve ser comunicada às autoridades responsáveis ou ao Rocha do Duarte & Companhia, que é o guia espiritual de todos os que professam a religião bigodista portuguesa (e que tinha uma bazuca que era uma senhora arma de destruição maciça).
Agradece-se o esforço mas não serão dadas recompensas.
Vão mas é trabalhar.

A Direcção”

quinta-feira, novembro 05, 2009

A Pantera Negra (A Outra)

Eusébio. Um nome, uma lenda. Pensamos em Eusébio e imediatamente associamos esse vulto a “tremoços”. E também a Portugal, vá lá. E vagamente à Amália e ao carismático par de lontras do Oceanário. É uma fama que perpassa gerações, nacionalidades e credos. Chegou a altura da homenagem da nossa SAD.
Aqui está Eusébio representado na flor da sua idade, pujante como nunca. Um equipamento imaculadamente negro, como negra era a vida de quem lhe tentava fazer um túnel. Uma frondosa extensão capilar, com duas pontas soltas a tombarem-lhe sobre a fronte, emprestando um elevado quilate estético a esta força da Natureza tornada jogador. O olho esquerdo um pouco mais cerrado, uma expressão de desafio, um aviso aos magos da bola que teimam em acarinhar o cautchu na intermediária: Eusébio não era apenas um mero carregador de piano; ele carregava-o, mandava-o ao chão e desfazia-lo em cacos apenas com o uso da sua mastodôntica força ortopédica. Duas sobrancelhas robustas, daquelas que definem a fronteira entre um Andrade e um Rui França. Um tufo de pêlos peitorais encarcerado pela justeza do equipamento e que teima em respirar à tona como se fosse um periscópio da masculinidade lusitana. E depois aquele subtil sorriso matreiro, qual Gioconda dos relvados enlameados com as bancadas bem próximas dos relvados e com velhas guinchadoras a arremessar pevides à careca do desamparado bandeirinha que não Bandeirinha, em jeito do anti-herói que despreza o perigo e que teima em partir as pernas dos outros quando não as consegue vergar.
Eusébio marcou mais que uma era; marcou muitas canelas por este Portugal dos brandos costumes.
Está feita a tua homenagem, Eusébio. Agora só pedimos, por favor, que não nos batas.


Este pode não ser o Eusébio que todos conhecem. Mas não deixa de ser uma lenda para nós.

segunda-feira, novembro 02, 2009

Bracara Assusta

Na ressaca do Halloween, dispensamos maquilhagem. Isso é coisa para meninas, bandas dos anos 80 e para o Kenny Cooper. Aqui no Cromos da Bola, SAD, gostamos dos nossos sustos sem corantes, conservantes e aditivos vários. Assim sendo, fomos à pesca.
Como do Oceano não apreciamos Peixe, Lula, Crodonilson ou Estrela-que-não-Pedro-do-Mar, fomos esgravatar no bas-fond da Bracara Augusta, na expectativa que nos saísse um mexilhão de qualidade.
E há melhor mexilhão do que Borçato?
Já dizia a minha mãe, "quem não tem Cao, caça com Borçato". E o vosso escriba, obediente petiz de antanho, assim fez. E que bom susto nos oferece o aguerrido brasileiro! Até parece que estou a ver o plantel do Beira Mar tolhido de medo perante este corcunda de Notre Dame, que não era corcunda, nem de Notre Dame. Nem o Vítor Duarte escapou ao sobressalto, logo ele que era uma espécie de Dinis albino, que não Bino percursor da mosquinha.

Mas nem só de Borçato vive o espavento, e a nossa pescaria trouxe mais bivalves de qualidade.
Vejamos o Caniggia de Alhos Vedros, Pedro Miguel de seu tímido nome, meio sorriso no rosto estampado. Não enganas ninguém, Pedro. Esse encenado esgar de simpatia não cobre a loucura adjacente ao teu olhar. Está lá, Pedro, e toda a gente vê (menos o Gaspar Ramos, porque não sabemos muito bem para onde está a olhar). Esse desatino que te vai na alma é transparente. Conseguimos cheirar o sangue de mil mutiladas vítimas no teu cabelo de pontas espigadas, podemos ver a morte na tua barba negligé de 3 dias. O teu trejeito de felicidade não é senão uma fachada, uma capa para cobrir a mórbida demência que te leva a roer os ossos daquilo que resta do simpático Johnny Rodlund. A tua máscara caiu, Pedro. Nós temos medo. E tu?

Olha no fundo do balde! É um Vado! Lá está ele todo espantado. És feio, mas não metes medo, malvado. Ficas aí ensopado, no fundo do balde pregado, desamparado. Coitado? És pequeno e limitado, mas não temos pena de ti aí no fundo do balde sulcado. Vês o caso mal parado? Não fosses Vado, fosses antes Borçato que é bem mais amado.

Eh lá, sobrou um Chico. E acho que é um Silva. É verdade, grande pescaria.
Um Borçato para o palato, um Vado para o enfado, e um Pedro Miguel para fazer pastel. E como se já não bastasse, calha-nos um Chico no final da festa. E é um Silva!

Não dá para grande abalo de terror repentino, mas é sempre bom para afugentar certas pessoas.
Como dá ares de arrumador, pode ser que o Floris Schaap não queira arrotar 50 cêntimos para deixar a Famel à porta do balneário e venha de autocarro. Quanto mais tarde o antecessor de Nordin Wooter chegar ao treino, mais hipóteses tem o Jorge Ferreira de ser titular. E todos queremos ver o Jójó no tapete verde, não é?


Post Scriptum Cromatium: como podem ver no cantinho aí à direita, o Cromos da Bola SAD é oficialmente uma prostituta da blogosfera: já estamos no Facebook. E queremos ser vossos amigos. (Bod)Unha e carne, como Dani e Domínguez.

quarta-feira, outubro 28, 2009

Petições Para Que Vos Quero

As petições. Ah, as petições, as petições… O que seria deste mundo sem as petições? O que seria do Rui Santos sem uma petição? Provavelmente, apenas mais um viciado em gel barato, aos caídos pelo Intendente, ressacando pela sua dose diária de azeite. É uma pergunta que ele pode deixar a si próprio para responder no próximo programa.
As petições, hoje em dia, são conhecidas pela enorme relevância que assumem no caos democrático em que vivemos. Por exemplo, Rui Santos conseguiu mobilizar para a sua petição personalidades tão afastadas do futebol como Almeida Santos, Bárbara Guimarães ou Cuíkeh Flores.
Há quem pense que as petições são coisa nova. Mas não. Pelos menos, já desde os tempos da queda do Muro de Berlim que circulavam petições por aí. Eis três exemplos.

1 – Petição “Meninas Não Entram Em Chaves”

Em 1991, Slavkov deslumbrava nas margens do Tâmega. Com os seus passes desenhados a régua e esquadro e bolas que faziam cuchi-cuchi às redes, Slavkov levava todo o povo flaviense a sonhar de olhos abertos. Pudera. Os olhos não se podiam distrair daqueles postes de iluminação com publicidades monstruosas a uma entidade de construção civil com um nome tão catchy como era a ACCIOP. Mas, lá no fundo, Slavkov não andava bem. Sentia falta do velho bigode que personalizava a mística transmontana. Ultimamente, o balneário andava tão imberbe que até a mais pueril das ginastas da ex-RDA faria um figurão. Radi, Zdravkov para os amigos, tinha abalado e com ele levado um pouco do coração de Slavkov. É que Radi (não confundir com Rudi, por favor) era dono de um excelso bigode de inspiração bárbara que era capaz de mobilizar toda uma horda de guerreiros sedentos de bom futebol apenas com um pequeno esgar, como podemos constatar neste pictograma de 1988:
Este bigode era capaz de motivar todo um balneário, toda uma equipa, toda uma região. É certo que Diamantino, o capataz flaviense, possuía um bigode de fazer inveja a qualquer taberneiro que assa frangos de mangas arregaçadas com um avental da Scotch-Brite. Todavia, Diamantino já anunciara a sua retirada e a sua total dedicação ao negócio de enchimento de alheiras. Foi então que Slavkov, não conseguindo esconder o seu défice de carinho atrás do seu rosto quadrado, fez passar a sua petição, requisitando mais pilosidades infra-nasais no Desportivo local, de preferência farfalhudas.
Paulo Alexandre foi logo o primeiro a assiná-la, convencido que só o bigode de Manuel Correia seria insuficiente para assegurar a consistência do eixo defensivo. Lila também assinou de bom grado, pois tudo o que distraísse o público do seu nome que fazia pesadelos a Fernando Seara era bem-vindo. Depois Rudi assinou por simpatia. Vule assinou de cruz. E todos os outros se seguiriam, incluindo o próprio Diamantino, ciente que o seu testemunho seria passado a um rosto suficientemente viril.
O resultado final: um enorme sucesso. Chaves foi presenteado não com um, mas sim com dois bigodes – o portuguesíssimo Tavares e o obscuro búlgaro Tanev, recrutado numa taberna de Plovdiv. Agora Slavkov podia sorrir outra vez. Mas não o fez. Porque Slavkov jamais sorria.

2 – Petição “Mais Sal Para o Futebol Madeirense”

Na pérola do Atlântico, os canários piavam fininho. Isto porque havia pouca substância futebolística na torre de Babel em que se tornara o União. Entre balões e desmarcações desconexas, Markovic discutia com Lepi, este barafustava com Jairo, Jairo repreendia Dragan enquanto este se agastava com Stilic, e Nelinho, o português, perdido no meio, dizia “hã?”. O que faltava em golos sobrava em confusão.
Vai daí, Nelinho, pequeno no nome mas com enorme espírito de resistência, empreendeu uma petição em que clamava pelo verdadeiro sal do futebol: os golos. Para tal, precisava que a direcção reforçasse o clube com mais trunfos.
Nelinho explicou a questão aos colegas, em português. Isto levou cada um deles a interpretar à sua maneira a explicação de Nelinho. Por exemplo, Markovic escondeu a Bíblia do Marco Aurélio no cacifo do Valadas e Edilson começou a correr à volta do campo sem objectivo aparente. Mas Nelinho lá conseguiu recolher um número aceitável de assinaturas, não contando todavia com a receptividade de Matias, que protestou “Qu’esta m**da, car***o?!?”.
A direcção sensibilizou-se e respondeu com a contratação do equatoriano Quiñonez. E depois com o brasileiro Manu. Nelinho exasperava com as dificuldades de comunicação. O sal do futebol continuava ausente. Até que a direcção, farta das exigências de Nelinho, arranjou-lhe o mais próximo que conseguiu:
Não foi sal, foi Pimenta. E, curiosamente, este nem sequer marcava golos, quanto muito tentava evitá-los com o seu portentoso par de sobrancelhas.
Nelinho, desalentado, acabou por desistir das petições. Dedicou-se antes a cursar sérvio, espanhol, algum búlgaro pelo sim pelo não e linguagem gestual, na qual se graduou com distinção.

3 – Petição “Se Um Caccioli Incomoda Muita Gente, Dois Cacciolis Incomodam muito Mais”

Milton Caccioli
, a calva mais conhecida do Minho, elevou-se desde cedo à condição de mito – facto reconhecido humildemente pela Cromos da Bola, SAD. A sua presença em campo significava um bom espectáculo. Hoje a sua presença fora de palco significa uma boa pizza. Caccioli estava de facto destinado para grandes feitos. Os adversários tremiam com o brilho da sua careca refulgindo ao sol e os colegas bebiam os raios de luz que saíam dos seus pés sob a forma de bolas de Berlim carregadas de açúcar e creme. A cabeça de Caccioli apenas pensava em futebol, passes rasgados e tabelinhas mágicas, pelo que nem havia espaço para o cabelo crescer em terreno futebolisticamente tão fértil.
Cientes que Caccioli era o Rei Midas de Famalicão, o plantel apressou-se a engendrar uma estratégia de capitalização do seu maior activo – ou seja, seria possível multiplicar o efeito-Caccioli? O plantel elaborou uma petição nesse sentido e a resposta foi um retumbante “sim”.
Não foi sequer preciso recorrer a gente rebuscada, como políticos, músicos ou apresentadores de TV. Nada disso: a resposta estava no próprio plantel. O seu nome era Luís Miguel. Podia ter sido um Carlos Alberto ou Pedro Alexandre qualquer, mas o escolhido foi Luís Miguel. Uma vez designado por unanimidade o novo Caccioli, Tanta, Lula e Ben-Hur retocaram Luís Miguel. Deram-lhe uns encontrões, cortaram-lhe o cabelo à chapada, pisaram-no aqui e acolá, mandaram-lhe uns quantos berros bem dados e Luís Miguel ficou pronto.
Estava lá tudo: a pose, a calvície e o olhar de desafio ao sol. Luís Miguel era a sósia que Caccioli nunca sonhou ter no próprio plantel.
Mas Luís Miguel não aguentou a responsabilidade. Não estava preparado para ir aos céus tão repentinamente. Ao fim de seis jogos, os seus nervos quebraram e Luís Miguel ficou feito em fanicos. Há quem diga que foi o Tanta, o Menad desconfiou do Lula, o Ben-Hur assobiou para o ar. O certo é que Luís Miguel não conseguiu ser o Caccioli que todos desejaram. A petição, contudo, tinha sido um sucesso sem paralelo.

sexta-feira, outubro 23, 2009

Boavista Vice

Dois homens, dois justiceiros.

Paladinos de padrão xadrez pintando o golo a tons pastel sob a égide da lei.
Esgares de superioridade envoltos em fatos Armani.
Olhares determinados sob Raybans apontados à linha de baliza.
Suaves e silenciosos, deixam o seu cunho pessoal gravado a néon pluricromático nos traseiros dos zagueiros adversários.

Richard Daddy com classe mata, Marlon Brandão com distinção esfola.

Espalhem o perfume Paco Rabanne pelas outrora insalubres sarjetas do resultado nulo e dos marcadores inalterados.

Porque eles vêm aí, e vêm de sapatinho italiano calçado.

segunda-feira, outubro 19, 2009

Festa da Taça

Este post simples e eficaz quer homenagear 2 cromos da bola que entraram na festa da taça, através do descohecido Monsanto, da II Divisão B.

MARÇAL - campeão pelo Boavista, a sua carreira foi sempre a descer, mas lá está de novo na ribalta. Todos se lembrarão do cabelinho amarelo, perinha amarela...um visual sui generis no Setúbal. Passou ainda por Felgueiras, Ovarense e até pelo Lixa!


VÍTOR ALVES - Ex guardião da Académica de Coimbra, jogou até final dos anos 90. Era o eterno suplente da equipa dos estudantes, atrás de Tó Luís, Sérgio, Pedro Roma...

mas jogou com Latapy, Lewis, João Tomás, Febras, Dário, o grande Dinda... entre outros. Vítor Alves deve ser um baú de boas histórias cromáticas dos relvados portugueses...

Obrigado Taça por trazeres para a montra do futebol verdadeiros monstros da bola.

sexta-feira, outubro 16, 2009

É Petrogal, Ninguém Leva a Mal

Era uma vez uma jovial agremiação de Leça da Palmeira, solarenga, alegre e com futebol para encher a nação inteira. Lá dançavam futebolistas aos pontapés, vitórias brotavam pelo País de lés-a-lés.
Havia Róscar, Chico Nelo e Nando; havia galhardia e até um Armando. Tempos felizes, tempos de fartura; caçava-se perdizes e degustava-se a gordura.












Róscar, o despenteado porém sonhador petiz, desenhava uma promissora carreira a giz. Quem chegou o apagador ao quadro e rasurou esse futuro, não seria com certeza um fã de kuduro.
Seria possivelmente um adepto da chanson pimba, tal como Chico Nelo. O irrequieto vagabundo de capilar monumento canalizava energias de Nel Monteiro, o popular portento.
Chico partilhava a meia-lua com o virtuoso Nando, a proverbial voz de comando. O semi-calvo fantasista de cariz ofensivo servia o couro aos avançados, qual garçon ofertando um aperitivo. Quem não se lembra desta criativa mente de pornográfica chuteira fluorescente?












Mas também de Serifos se fazem as conquistas. Avançado acutilante, esculpido em carvão e transformado em diamante. Monarca leceiro, Weah da Petrogal, ídolo dos adeptos pese embora o golo não ser ocorrência normal. Tão grande era a sua popularidade, que o Windows dedicou uma font à sua genialidade. MS Sans Serif? Homessa! "sans" o "Serif" ninguém se recorda do Leça!
Outro artista com nome de Rei: Jordão era um imberbe reguila, mas já impunha a sua Lei. Sem pistola no coldre ou chapéu de cowboy, a cerebral promessa era adepta do não mata, mas mói.
Sobra-nos o nome de Jarrais. Sempre sorridente, de pêlo sedoso e sobrancelhas bestiais.












E já que falamos em bestiais, recordemos o senhor de bigode que aconchegava o banco de Vladan em dias pares, ímpares, tardes incomuns e noites normais. Bestial era o seu nome do meio, bestificante a sua elasticidade, e felina era esta nossa besta incapaz de abocanhar a titularidade.
A palavra bigode, substantivo de inusitada importância, teria sempre que vir acompanhada deste elemento de superlativa militância: Matias, o valoroso central - betão armado no cerne da defesa, arranha-céus de pilosidade supralabial.
Utensílío de lavoura, ou membro da resistência timorense? Grite-se Alfaia, qual Xanana reclamando a independência. A talhe de foice, houve timorenses falsos de Vera Cruz mascarados; lembro-me de Esquerdinha e Ronny, laterais malfadados. Mas conterrâneos de Gusmão só houve um, com nome de tambor de Maracatú e duro como uma cana de bambú.












Para finalizar o passeio, revejamos apenas as luvas de aço na esfíngica figura do gigante vivaço.
Vladan, o colosso sérvio de irascível temperamento, temível aranhiço que rechaça bolas a contento. Um homem duro, de granítica expressão, que não admitia miminhos ou festas, mesmo vindas de um campeão.
É verdade, um campeão europeu que habitava em Leça e não se chamava Amadeu. Seu nome era Festas, coberto de glória em 1987, galhardo central no relvado e com soltura na retrete. Experiente, mandão e de franjinha impecável, perante os avançados já não era nada amável.
Para oferendas aos cientistas do golo tínhamos o Isaías, uma versão sem bigode do Matias. Um simpático central de aspecto relaxado, e um respeitável penteado amiúde bem cuidado.

Assim abandonamos Leça da Palmeira, despedimo-nos dos hombres da IMOLOC e da Divisão Primeira. Aguardamos o regresso algures pela Exponor, com Vinha, sem Vinha, mas sempre com muito amor.

terça-feira, outubro 13, 2009

A Malta de Alverca 1997 - parte 1


A propósito de jogarmos contra Malta amanhã, há uma malta que vale a pena falar ... Alverca 1997 - Uma boa colheita sem dúvida.
Para começar, esta equipa tem um mister de Luxo, MÁRIO WILSON!! "Qualquer treinador pode ser campeão no Alverca" terá dito este sábio mister.

12 anos após essa época, vale a pena olhar para as fronhas desta malta.
E que malta!
Localizando e contextualizando, o Alverca estava na II Divisão de Honra (mas que Idalécio nome). Após uma epoca com Mário Wilson e José Romão como timoneiros, a ambição era grande. Não poderia subir à I Divisão, como satélite que era do Benfica, mas então era um viviero de futebolistas com largo futuro.. atenção que largo nao significa bom!

E entao olhem só para esta defesa:

- Hugo Costa: prometedor, o novo F. Couto, escolas da Luz, Selecções jovens qb.. Nascido no Tramagal, cedo tramou que queria ir para o Benfica. Hoje em dia joga no Pinhalnovense, depois de passagens por clubes europeus como o Atromitos Yeroskipou, Stoke City e RW Oberhausen. Agora joga no clube de Pinhal Novo, para pelo menos sentir que rejuvenesce e o futuro será mais risonho. Mas em 97, 30 jogos no Alverca.

- Nélson Morais: Defesa direito, escolas de Corroios, mas mais um que vai para a Luz e conclui a sua carreira de junior no Benfica. Na selecção é presença assídua.. Veloz, baixo, ágil, parece ser um lateral à Roberto Carlos. Mas mais uma vez, Alverca, Campomaiorense, Leiria.. e o fim no Seixal, ainda com 30 anos! Pobre Nelson Morais... Mas em 97, foram também 30 jogos no Alverca.

- José Soares: Mais uma promessa. Neste época de 97 faz também 30 jogos. Em grande Ze´!!Mas onde começou Zè Soares a carreira? Começa na sua terra natal, Elvas pois então! E depois muda-se para... ora lá está ! adivinharam , é a escola da Luz, sempre muito profícua. BBBBBBBBenfica!! E depois lá começam os Famalicões, os Alvercas, o Campomaiorense (o célebre duelo com Jardel.. inesquecível) , o Aves,.. e depois a óbvia internacionalização.. começando pelo Istres de Frauunça, mas que nao deu para sentir-se um verdadeiro emigra. Pelo que logo a seguir, toca a ir para a Alemanha jogar no Schweinfurt!! Bem, nao estava a ser muito positivo.. e porque não ir até à terra do pittrólio? Arábias é sempre espectacular. vai daí, All-Itthiad e Al-Shamal foram os novos estádios que viram Zè Soares em todo o seu esplendor. Jardel é que ja sentia falta dele em terras de Campomaior, por isso pedi-lhe "Ei, Zé, cára, veim para Portugaul novamentchi! Elvas precisa di tchi!!. Quem sabe a Manuela Moura Guedes nao o chama para ume entrevista !!" E José Soares, grande amigo de Jardel, acabou por regressar ao seu clube natal. Mas a TVI não quis nada com ele. Eis que a meio do ano, surge um convite para conhecer a bela India! E o Caminho das Indias leva-o ao Salgaocar... nao , nao é um stand. é mesmo um clube. Bem... era qualquer coisa que queremos pensar que era um clube..!

Toda a aventura tem um fim e Zé regressa novamente. Por isso, Elvas volta a vê-lo jogar!! Excelente, amor á terra... ups.. eis que surge o convite do Badajoz! E voilá, emigrante de luxo em Esspanha, mais um!!!
Pelas últimas notícias que conseguimos apurar, consta-se que este ano Zé Soares passa o dia a cantar "Ó Elvas ó Elvas, Badazóoooooooz á vista... sou contrabandista de cortes e carrinhos ao Jardel, transporto no peito o embelema dos carameloss.. o embelema dos caramelooooooooos, o embelema dos carameeeeeeeeeloooooss! "


domingo, outubro 11, 2009

Arte Bué Pop

Warhol e a sua musa, Marilyn Jesus. Luís Filipe Vieira, confrontado com os quinze minutos de fama do seu treinador, admitiu, resignado: "Deus dá dentes a quem não tem nozes". E assim matou duas cajadadas com um coelho só. Pois é. Em casa de pau, espeto de ferreiro.

Mona Mendes

A velha questão que atormenta a humanidade: de que sorri Milton Mendes?

terça-feira, setembro 29, 2009

A Família

O futebol é uma grande família. Porém, por razões várias, alguns podem ser tratados como um guarda-redes perante a atabalhoação de Birame (tardes tranquilas onde dava para piquenicar na pequena área) e outros tratados como se fossem marcados pelo pragmático Sérgio Lomba (o que implicaria, no mínimo, uma lata de spray milagroso e muito gelo nas canelas, só para citar o paliativo mais imediato).
Existe então uma dicotomia na forma como os diversos jogadores são acolhidos pelos restantes agentes futebolísticos. Para designar esta dualidade de critérios (olá, sr. árbitro), costumamos dizer à boca-cheia, e recorrendo a uma alegoria de cariz familiar, que “alguns são sobrinhos e outros são enteados”.

Este jogador não escondia esse facto. Ele levou essa expressão a peito. Ele era mesmo, clara e objectivamente, um Sobrinho. Assumiu-o de forma cabal. E por causa disso era olhado de soslaio. Andava sempre “ó tio, ó tio!”, qual Donald atrás de Patinhas. Apesar de jamais ter alcançado o patamar de enteado, conseguiu ser internacional sem nunca ter tido padrinhos.



Já este jogador é alguém muito próximo de nós, visto que todos nós somos primos segundo uma teoria de inspiração bíblica. É verdade, nós não somos Albertinos nem Margaridos, somos primos. E por isso Primo é-nos muito familiar. Toda a gente gostava de brincar ao quarto-escuro com as suas irmãs, que eram as primas. Incluindo o treinador e todos os não-convocados. O Primo é primo de corpo e alma. O Primo é primus inter pares.


Ainda mais abrangente era Parente. Mesmo que fosse afastado, Parente estava por lá. Era Sobrinho e Primo e mais qualquer coisa. Parente reclamava sempre um quinhão de qualquer herança. Estava sempre presente nas convocatórias, pois ninguém se atrevia a deixar um parente de fora. E fartou-se de ser convidado para casamentos e baptizados onde não conhecia ninguém.

Eu por acaso tinha um parente que se chamava Horácio.

Não, não era este, mas este tinha um bigode. Além do mais, este era português e jogava no União da Madeira.
Dada esta especificidade, o Horácio não podia ser catalogado como sobrinho, primo ou mesmo como parente. A categoria de Horácio apenas se podia medir na escala de Horácios.
Um case-study, portanto.
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